segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Pra Colorir – Ricardo Cury


Um dia, numa rua da cidade
Eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história
Que era mais ou menos assim:

“Eu há dez mil anos atrás” – Raul Seixas e Paulo Coelho

Da outra vez que li as aventuras de um músico underground pelo mundo afora, foi pelo livro de Leonardo Panço com o seu Jason 2001. E foi exatamente esse mesmo Panço que me falou noutro dia por MSN que estava lembro o livro do Cury, de quem até então eu ignorava a existência.
A princípio me interessei por ser um lançamento independente e depois por conter histórias do mundo do rock produzido por alguém que vive o rock. Também as ilustrações disponibilizadas no blog do Cury (de onde originou a idéia do livro), que achei bem bacana, lembrando muito a minha São Paulo. E assim arrisquei meus tantos reais nesse investimento.
E ele veio numa hora meio ruim que eu estava envolvidaço no Harry Potter e a Ordem da Fênix que estava muito bom. Alertei o Cury que eu ia só poder ler depois de acabar com o menino bruxo. Porém, resolvi ler o prólogo. Percebi que ia sofrer por esperar a vez do Pra Colorir.
Como o livro é formado por crônicas, passei a ler cada dia uma antes de dormir e que o tornou oficialmente meu primeiro livro de cabeceira. Assim que terminei o Potter, investi todo o tempo que gasto no ônibus, metrô e trem para os momentos íntimos junto com as histórias do autor baiano.
Cury apresenta nesse livro alguns casos engraçados, curiosos que aconteceram em sua vida sempre rodeada de fatos inusitados, sutilezas oferecidas pela vida e, principalmente de muita música. Dá impressão que a vida do cara tem trilha sonora pra tudo: desde os sons mais improváveis aos até mais sofisticados. Dando aquele gostinho de “a vida como ela é”, pois sempre o leitor pode se identificar com situações normais até certo ponto, como esquecer que pegou o carro da esposa e, ao sair da padaria, achar que foi roubado (pois pensou que estava com o próprio carro), ou mesmo nas estratégias utilizadas pela turma do fundão para se dar bem nas provas...
Acho que aí foi que mais me identifiquei com ele: pra tudo tem uma música, uma frase de uma canção, sempre explica ou norteia tudo. Para ajudar a identificação das músicas, Cury teve o luxo de pesquisar o nome de cada uma, seu autor, intérprete, disco e ano de lançamento. Só faltou citar qual era a faixa.
Para quem trabalha com música, a saga do autor em divulgar suas bandas pelo Brasil pode ser uma boa dica para quem está correndo atrás de divulgação, as situações curiosas como a frieza com a qual os porteiros de redações de jornais e de gravadoras o receberam em São Paulo, a sorte de tocar com Sidney Magal, Armandinho (o do trio elétrico), os encontros com Caetano Veloso, Chico Buarque, mostram os vários sentimentos de realizações que uma pessoa apaixonada pela música pode ter.
Em vários momentos me peguei torcendo para que ele se desse bem em situações, como quando tentou combater um incêndio, ou mesmo na sua luta para conseguir um local ao sol no mundo fonográfico. Até cheguei a torcer para que o Brasil ganhasse a Copa do Mundo para ver como seria isso para um brasileiro em solo argentino.
O que achei bastante bacana foi a forma que o livro foi montado: as ilustrações de Ricard Sans dão um aspecto de long play, enquanto os capítulos tem cara de faixas, com direito à algumas páginas em branco que escondem uma faixa-escondida no final do livro. Coisas de quem vive a música todos os dias.
Talvez qualquer um poderia ter escrito um livro com os mesmos objetivos de Cury, mas poucos passaram por situações como as dele e raros os que escrevem de forma tão leve e solta que não dá vontade de parar de ler mais.
A sorte que ele ainda continua escrevendo em seu blog, as faixas-bônus que (espero) demorarão muito para chegar ao stop.
Coisas pra quem tem colhão.

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